Ao
chegar a Luzern, na região central da Suíça, de imediato, quis fazer analogia
com o significado de seu nome: candelabro, castiçal ou lustre. Vi, em primeiro
plano, o rio Reuss, com as águas límpidas que, além de ser o habitat
dos gansos, espelhava a arquitetura dos edifícios que contornam o centro
urbano.
Mergulhei, profundamente, meus olhos ainda cansados da viagem
naquelas águas transparentes. Voltei à superfície e ampliei a visibilidade para
o novo cenário. Senti como se velas gigantescas iluminassem as montanhas e os
Alpes suíços de Lucerna. Um panorama esplendoroso! Foi amor à primeira vista.
Com 60 mil
habitantes, Lucerna é considerada a porta de entrada para a Suíça central. Organizada,
limpa e ornamentada com bom gosto é um convite ao turista. Ao
admirá-la, perplexa, pela variedade de cenas que se apresentavam,
instantaneamente, a minha alma serenou e senti a calmaria adentrar em meu ser.
Visualizei um verdadeiro palco, em três dimensões e cada miragem penetrou em meus olhos cansados pela correria da vida inteira. Parei, mergulhei novamente meus olhos naquelas águas translúcidas e entendi também o porquê do cognome da cidade: Veneza Suíça.
Visualizei um verdadeiro palco, em três dimensões e cada miragem penetrou em meus olhos cansados pela correria da vida inteira. Parei, mergulhei novamente meus olhos naquelas águas translúcidas e entendi também o porquê do cognome da cidade: Veneza Suíça.
Vi as pontes e
fixei-me naquela que é considerada uma das mais antigas da Europa. Em posição
diagonal ao rio, é o símbolo da cidade e chamada de Ponte Capela, aliás, Kapellbucke. Em seu interior, o teto é coberto por pinturas do século
XVII, que contam a história da cidade. Muitas, infelizmente, foram queimadas,
em um incêndio, em 2003.
Próxima ao centro do rio, a ponte está unida à Wasserturn,
a Torre da Água, uma construção octogonal que serviu, no passado, como
farol, além de prisão e casa do tesouro.
Wasserturn, a Torre da Água
Um dos edifícios, em estilo Barroco, destaca-se em uma das margens do rio: a Igreja dos Jesuítas, cujas abóbadas foram colocadas no século XIX. Estes líderes católicos chegaram a Lucerna, em 1574, fugidos da Reforma religiosa, quando os seus habitantes lideraram a resistência católica na Suíça. Foram longas disputas religiosas e políticas na região.
Segundo a história, grande parte dos estados suíços aderiu ao protestantismo, embora seja mais visível
a presença da Igreja Católica em Lucerna. O curioso é que hoje convivem os protestantes
com os católicos, sem rusgas, cada um com seus ritos e arquiteturas expostas
nas ruelas encantadoras da cidade.
Tudo emociona em Lucerna. Um exemplo é o Monumento do Leão Morrendo, esculpido na rocha natural, feita por Bertel Thorvaldsen, em memória aos mortos da batalha de Tulherias, em 1792. É realmente triste e comovente interpretar a expressão da dor mortal do leão que representa a agonia dos soldados. No alto da lápide, lê-se: Helvetiorum fide ac virtute (À fidelidade e à bravura dos suíços). 1481
Monumento do Leão Morrendo
As praças e as igrejas complementam a arquitetura
personalizada de Lucerna. Casas históricas decoradas com afrescos enfileiram-se
em volta das pitorescas praças com ruas fechadas ao tráfego de automóveis. Serafim
Weingartner é o autor-artista e quem pintou grande parte dos afrescos das
fachadas das casas com alegorias e simbolismos. Vindo da Basiléia, foi diretor
da escola de arte de Lucerna.
Como castiçais, acendeu em mim o desejo de
interpretar cada desenho que encantou os meus olhos, já serenos e preparados
para apreciar tudo o que via na mais suave cidade que visitei na Suíça.
Os restaurantes apresentam pratos saborosos ou
um chocolate bem quente, servidos, facilmente, nos cafés locais.
As lojas acompanham o bom gosto do povo sorridente e sensível à cultura e à arte, inclusive, nas vitrinas, que sempre ostentam os famosos relógios suíços.
O que não imaginava é que Lucerna guardava um segredo em Kriens, a poucos minutos do centro da cidade. Subimos em uma gôndola e depois, em um teleférico, até o cume do Monte Pilatus, com 2.132 metros acima do nível do mar. É a ferrovia mais íngreme de roda dentada no mundo. Senti um calafrio ao iniciar a trilha, no trem de cremalheira, onde imediatamente vi florestas, com prados alpinos, cobertos pela neve.
Monte Pilatus
A visibilidade até chegar ao topo
deslumbra pelo mix de paredões rochosos, abismos com a neve cobrindo os
pinheiros e o lago de Lucerna ao fundo. O contato direto com o gelo e a diversidade
de cenários eram totalmente desconhecidos por mim. A natureza, em seu estado
extremo, com um nível de poder e domínio tão intenso, alheia aos conflitos
pessoais e sociais, abrandaram meu espírito mesmo diante do frio intenso.
A curiosidade para conhecer o Monte
Pilatus misturava-se com a coragem e o medo para fazer a mais nova aventura
de minha vida. Soube
que as lendas do Monte
Pilatus envolvem dragões e personagens históricos. É o
monte coberto de neve, no verão e no inverno, em que o corpo do governador
romano Pôncio Pilatos está enterrado. Contam seus habitantes que é o único
lugar em que sua alma pôde descansar.
Antes da partida, almoçamos Raclete,
um prato de queijo típico dos suíços, em um restaurante, bem lá no alto. Foi
neste clima que ouvimos o canto de três senhores, que acalentavam o coração de
todos que passaram por esta experiência de frio, susto, medo, miragem, alegria,
respeito e coragem.
Voltamos à cidade para o nosso último olhar de luz!
Assim foi o grand finalle em
Lucerna: uma cidade, apesar de fria, é muito acolhedora e deixou-me não só, com saudades, antes de sair, mas
vontade de me aprofundar, em seus outros mistérios, que não pude visualizar. Quem sabe retornar um
dia?! Quem sabe?