quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As luzes de Luzern - Suíça


   
 
 



Ao chegar a Luzern, na região central da Suíça, de imediato, quis fazer analogia com o significado de seu nome: candelabro, castiçal ou lustre. Vi, em primeiro plano, o rio Reuss, com as águas límpidas que, além de ser o habitat dos gansos, espelhava a arquitetura dos edifícios que contornam o centro urbano.
 
 


Mergulhei, profundamente, meus olhos ainda cansados da viagem naquelas águas transparentes. Voltei à superfície e ampliei a visibilidade para o novo cenário. Senti como se velas gigantescas iluminassem as montanhas e os Alpes suíços de Lucerna. Um panorama esplendoroso! Foi amor à primeira vista.
 
 
 
 
Com 60 mil habitantes, Lucerna é considerada a porta de entrada para a Suíça central. Organizada, limpa e ornamentada com bom gosto é um convite ao turista. Ao admirá-la, perplexa, pela variedade de cenas que se apresentavam, instantaneamente, a minha alma serenou e senti a calmaria adentrar em meu ser.

Visualizei um verdadeiro palco, em três dimensões e cada miragem penetrou em meus olhos cansados pela correria da vida inteira.  Parei, mergulhei novamente meus olhos naquelas águas translúcidas e entendi também o porquê do cognome da cidade: Veneza Suíça.
 
 
 
 
Vi as pontes e fixei-me naquela que é considerada uma das mais antigas da Europa. Em posição diagonal ao rio, é o símbolo da cidade e chamada de Ponte Capela, aliás, Kapellbucke. Em seu interior, o teto é coberto por pinturas do século XVII, que contam a história da cidade. Muitas, infelizmente, foram queimadas, em um incêndio, em 2003.
 
 
 
 
                                      Ao fundo, Wasserturn, a Torre da Água.

Próxima ao centro do rio, a ponte está unida à Wasserturn, a Torre da Água, uma construção octogonal que serviu, no passado, como farol, além de prisão e casa do tesouro.
 
 


                                                        Wasserturn, a Torre da Água

Um dos edifícios, em estilo Barroco, destaca-se em uma das margens do rio: a Igreja dos Jesuítas, cujas abóbadas foram colocadas no século XIX. Estes líderes católicos chegaram a Lucerna, em 1574, fugidos da Reforma religiosa, quando os seus habitantes lideraram a resistência católica na Suíça. Foram longas disputas religiosas e políticas na região. 

 
 
 
                                                              Igreja dos Jesuítas
 
 
 
 
 
Segundo a história, grande parte dos estados suíços aderiu ao protestantismo, embora seja mais visível a presença da Igreja Católica em Lucerna. O curioso é que hoje convivem os protestantes com os católicos, sem rusgas, cada um com seus ritos e arquiteturas expostas nas ruelas encantadoras da cidade. 

 
 

Tudo emociona em Lucerna. Um exemplo é o Monumento do Leão Morrendo, esculpido na rocha natural, feita por Bertel Thorvaldsen, em memória aos mortos da batalha de Tulherias, em 1792. É realmente triste e comovente interpretar a expressão da dor mortal do leão que representa a agonia dos soldados. No alto da lápide, lê-se: Helvetiorum fide ac virtute (À fidelidade e à bravura dos suíços). 1481
 

                                                 Monumento do Leão Morrendo
 
As praças e as igrejas complementam a arquitetura personalizada de Lucerna. Casas históricas decoradas com afrescos enfileiram-se em volta das pitorescas praças com ruas fechadas ao tráfego de automóveis. Serafim Weingartner é o autor-artista e quem pintou grande parte dos afrescos das fachadas das casas com alegorias e simbolismos. Vindo da Basiléia, foi diretor da escola de arte de Lucerna.
 



  
Como castiçais, acendeu em mim o desejo de interpretar cada desenho que encantou os meus olhos, já serenos e preparados para apreciar tudo o que via na mais suave cidade que visitei na Suíça.
 
 
 



 
 
 
 
 
Os restaurantes apresentam pratos saborosos ou um chocolate bem quente, servidos, facilmente, nos cafés locais.
 
 

 
 

As lojas acompanham o bom gosto do povo sorridente e sensível à cultura e à arte, inclusive, nas vitrinas, que sempre ostentam os famosos relógios suíços.
 

 
 
 
 
 


O que não imaginava é que Lucerna guardava um segredo em Kriens, a poucos minutos do centro da cidade. Subimos em uma gôndola e depois, em um teleférico, até o cume do Monte Pilatus, com 2.132 metros acima do nível do mar. É a ferrovia mais íngreme de roda dentada no mundo. Senti um calafrio ao iniciar a trilha, no trem de cremalheira, onde imediatamente vi florestas, com prados alpinos, cobertos pela neve.
 
 
                                                Monte Pilatus
 
A visibilidade até chegar ao topo deslumbra pelo mix de paredões rochosos, abismos com a neve cobrindo os pinheiros e o lago de Lucerna ao fundo. O contato direto com o gelo e a diversidade de cenários eram totalmente desconhecidos por mim. A natureza, em seu estado extremo, com um nível de poder e domínio tão intenso, alheia aos conflitos pessoais e sociais, abrandaram meu espírito mesmo diante do frio intenso.
 
 
                          Subida ao Monte Pilatus
 
A curiosidade para conhecer o Monte Pilatus misturava-se com a coragem e o medo para fazer a mais nova aventura de minha vida. Soube que as lendas do Monte Pilatus envolvem dragões e personagens históricos. É o monte coberto de neve, no verão e no inverno, em que o corpo do governador romano Pôncio Pilatos está enterrado. Contam seus habitantes que é o único lugar em que sua alma pôde descansar.
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes da partida, almoçamos Raclete, um prato de queijo típico dos suíços, em um restaurante, bem lá no alto. Foi neste clima que ouvimos o canto de três senhores, que acalentavam o coração de todos que passaram por esta experiência de frio, susto, medo, miragem, alegria, respeito e coragem.
 
 
 

Voltamos à cidade para o nosso último olhar de luz!


 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
Assim foi o grand finalle em Lucerna: uma cidade, apesar de fria, é muito acolhedora e deixou-me não só, com saudades, antes de sair, mas vontade de me aprofundar, em seus  outros mistérios, que não pude visualizar. Quem sabe retornar um dia?! Quem sabe?