segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Viagem à Patagônia no Celebrity Infinity




      O mundo é fluido: há amor, amizade, sociedade líquida e até medo líquido. Tudo se torna um líquido, escorrendo, sem podermos pegar como algo sólido, segundo o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman.
   Mas, foi aqui, neste majestoso navio,  onde começamos as nossas mais emocionantes férias, durante 15 dias, em uma moradia líquida, quero dizer, no Celebrity Infinity.   
  Não seria justo, se não postasse aqui algumas fotos do local dos que nos recepcionaram com tanta presteza, respeito, alegria e solidariedade.
   Cada ambiente foi cuidadosamente preparado para nós, tentando a cada minuto, cuidar, com uma gigantesca equipe, para personalizar o atendimento e dar, não apenas segurança, mas alegria a cada passageiro desta maior aventura turística de minha vida.
Tentarei expor os cantinhos dos quais mais me aproximei, para contemplar e fotografar a natureza El Fin del Mundo e que me levaram a reflexões das quais não me esquecerei jamais.




















Cabo Horn - o local mais austral da América do Sul



               
                                             Almoço especial ao passar pelo Cabo Horn


                                                            Vento frio do Oceano Pacífico

                                                          Almoço em dia especial





                                                                Teatro Celebrity





El fin del Mundo








                                                             Contemplação dos glaciares





                              Amigos de jantares, de conversas animadas e de trocas de informações



                                                       Apreciando o entardecer



Noite de gala



Jantar de gala

Amigos que eu deixei...


Anoitecer ás 22 horas

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sem escolhas




No dia seguinte, aportamos em Valparaíso, uma importante cidade portuária do Chile. Muitos conteiners, caminhões e trabalhadores. O progresso e a organização estão aqui.
Íamos deixar o navio, as lembranças dos lugares visitados, as amizades, a contemplação da natureza jamais vista. Chorava por ti, Argentina e já com saudades do Chile, amigo de emoções e deslumbramentos. Tudo tem começo, meio e fim. A resignação, diante dos fatos, faz-se necessária. Assim é a vida.
Com as malas na mão, pegamos um transfer no porto e, em uma hora e meia, estávamos em Santiago. Chegamos ao Hotel Pablo Neruda. Foi tudo! Poeta chileno maior que já dizia: “A verdade é que não há verdade”.



 Por que eu teimava em decidir uma paixão por um lugar? Por que me cobrar uma decisão que deve ser espontânea? Sentia um gosto amargo de fim de festa, mas a leveza de ter aproveitado minhas férias para ter contato integral com a natureza. Eu nela e ela em mim. Vesti-me de natureza. Abandonei o figurino formal ou informal dos homens e, pela primeira vez, fui natureza. Isto basta.
As escolhas são dos homens. Posso ficar com as duas. Não me esquecerei jamais do pôr-do-sol, das ilhas sozinhas, sozinhas, das montanhas unidas se levantando uma mais alto do que a outra, mas sem competição. Ali, quietas abraçando os mares, os lagos, as baías, as cidades e tudo o mais.

  

Agora é momento final, de despedidas. Não foi com lágrimas nos olhos, mas agradecendo, agradecendo. O anoitecer foi no Restaurante Oceano Pacífico.







Pra finalizar mesmo, as palavras do poeta Pablo Neruda:
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho. Pablo Neruda


Vamos para o nosso ninho. Pretendo ser mais pinheiro, arbusto, ramo ou relva e dar alegria aos caminhantes sem tantas exigências e escolhas.

Hasta la vista!

Precisa decidir?


Estamos na rota final de nossa viagem. A próxima parada: Puerto Montt. Será que o Chile ainda vai me emocionar? Há lugares mais intrigantes? Pensei: a festa está acabando e vamos logo para casa. Vamos, no plural, porque tenho um companheiro de vida que está comigo.



Sabem, acho que ele entende este meu jeito de escrever, de falar, de observar tudo muito rapidamente. Ah! Mas, às vezes, devo incomodar. Eu acho. Ele franze a testa, olha para mim, não como no tango: em uma luta, em um desafio, em um lamento. Mas, como se me pedisse mais calma... Calma... Eu sempre querendo explorar tudo, perguntar sempre, sede de saber e de beber um pouco de cada lugar. Não sei.
Mas eu estava falando que estava no Chile. Voltando a tudo para recapitular: iniciamos a viagem pelo Oceano Atlântico, pela Argentina, fomos ao mais extremo sul da América e estamos voltando pelo oceano Pacífico pelo Chile. Tudo bem compreendido? Que íamos ver florestas, lagos e ilhas em Puerto Montt, é o óbvio. Mas lá há vulcões. Nunca vi um. Tenho até medo de falar. Bem; queria ver vulcões. 
Aprendi que todo nome de cidade tem um porquê. Puerto Montt foi em homenagem a mais um europeu, no caso espanhol, mandatário da época, dom Manuel Montt Torres.
 Dando um grande salto no tempo: no século XIX, chegaram mais europeus, os alemães que aí, fizeram a definitiva colonização: uma ferrovia para unir a cidade ao resto do país. Comércio, comércio e os europeus.
Fomos primeiramente a Puerto Varas. É uma cidade, ao norte de Puerto Montt, charmosa e repleta de casinhas em estilo típico da arquitetura alemã. Rodeada pela exuberância do lago Llanquihue que foi formado por 85% de chuvas e 15% de águas derretidas das neves pelos vulcões, Osorno e Cabulco.  Repetia o nome para não me esquecer: Osorno, Osorno...



Surpresa, surpresa: no caminho, paramos para ver os saltos de Petrohue, um dos lugares mais lindos da região. Aqui, as águas deste caudaloso rio foram represadas por uma das erupções do tal vulcão Osorno. Assim, formou-se o lago Todos los Santos.
Com o tempo, a água achou seu caminho, por entre as rochas vulcânicas e formou canais, saltos e cachoeiras. Devido a sua origem glacial, a água tem uma forte cor verde-esmeralda. O nome Petrohue quer dizer “Lugar de fumaça” talvez devido as gotas d´água em suspensão.




Impressionantemente! Não era só verde, mas verde-esmeralda. E os contrastes? Como sempre é o que se vê, nesta região: a presença constante do poder de luta. Aqui no caso: as pedras e a vegetação endurecidas contrastando com a placidez das águas verdes, verdes. É uma paisagem para nunca mais se esquecer.
Na vida há muitos contrastes também em várias situações. Ter coerência é complicado. Nem na natureza existe?! Quanto mais entre os humanos?! Os desencontros são frequentes, assim como os encotros. Ora juntos, ora separados. Assim é o Petrohue.



E o vulcão? Não estava próximo? Onde? Mas, vamos ter mais calma e explorar o cenário que estava ali em frente. Não sabia que o roteiro incluía esses saltos de Petrohué, muito próximo de Puerto Varas. Queria ver Osorno. Que nome esquisito?
Nunca pensei que ali estivesse escondida uma sucessão de pequenas e belíssimas cascatas e corredeiras apertadas, com água geladíssima bem vizinhas ao vulcão Osorno. Apreciamos todo o cenário em aproximadamente duas horas e foram poucas. Seguimos trilhas, subidas e descidas rodeados pelo verde-esmeralda, verde das árvores, do azul do céu e do vento, lógico!
Eu não queria ver o vulcão? Ali estava bem ao lado: imponente e dominando também do lado oposto, o espaço diante da sutileza das águas transparentes. Mais um embate: vulcão e água. Mas, não parece o tango, com o desejo de reconquista e de lamento pela separação. Demonstram que, com o tempo, já se aceitaram e convivem sem desentendimentos maiores.





Só que todos parecem querer se apresentar aos visitantes de forma mais efusiva. Como se dissessem: “Olhe para o lado direito, esquerdo, mas olhe para o alto, mais alto, mais alto, mais baixo, mais ainda. É um cenário impressionante. Fantástico e exótico!
Descobri, no meio do passeio, a origem do nome do vulcão Osorno: é de origem indígena e significa: “onde mora o demônio”. Depois de saber, quis voltar para o navio e celebrar o final da tarde.



 O ciclo de emoções se fechava. Pensei na Argentina, no Chile e no Brasil. O que fazer com tantos sentimentos? Como fazer escolhas com a diversidade de tudo que pude vivenciar nestas férias? Preciso decidir? A natureza vai me exigir isto?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Restrito ao Estreito de Magalhães


    Curiosidade eu tinha desde sempre. Ah! Foi Fernão de Magalhães o primeiro europeu a chegar até ali. Penso comigo: quanto estudou, interpretou, calculou, somou, multiplicou, subtraiu e dividiu? Uma aventura e tanto!
    Sem apoio de sua pátria, o projeto teve a aceitação da corte da Espanha. O rei de Portugal não acreditou na antevisão do seu compatriota. Isso acontece com frequência na vida real. Aliás, este fato foi real em 1519.
    Conta a história que o visionário português passou pelo Brasil e pelo Rio da Plata, aquele do qual já falamos e chegou. Humildemente, chamou a passagem de Estreito de Todos os Santos.
    Idealismo assim, com risco de vida, é difícil hoje. Não acredito que desejasse honrarias. Tinha paixão e isto foi tudo para chegar. Criativo nas denominações. Às terras do Norte, chamou-as de Terra dos Patagões (homens-índios com os pés grandes) e as do Sul, considerou-as Terra das Fumaças, isto é Terra do Fogo.
    Mas houve mortes e deserções dos marinheiros, até que a Espanha desistiu da empreitada de persistir na exploração dessa passagem secreta. Sabe o que é ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico? O segundo não tem nada de paz. Assim foi chamado, porque no dia em que a expedição por ali passou, o mar estava calmo.
    Desistir é? Assim? Com tecnologias primárias, Fernão de Magalhães ousou sem medo. Mas há os que desistem. Riscos e obstáculos existem aqui e ali, em qualquer lugar. Gosto é da luta. Ah! Lembrei-me do tango. Luta por um amor. E você, Argentina? Como está. Não me ouve? Preciso gritar?
     Vi no Chile, uma singular natureza, embora ameaçadora, Argentina. Vi um desfile de colinas arredondadas, picos pontiagudos e glaciais branco-azulados. Só em pensar em tudo aquilo vencido por embarcações primárias, dá calafrios. Senti medo de cair ali, como me ocorreu no Cabo Horns. Uma sensação de queda, de luta, de tormentas.  


 
    O vento violentamente levava-me para onde eu não queria ir. Resolvi entrar no navio e apreciar tudo preservada da natureza agora hostil a mim. A Argentina nunca me trouxe insegurança. Ali eu senti.
   O que dizer das enseadas, das baías, dos fiordes e das ilhas? Eu e as ilhas.  Ah! O que é um estreito? É um canal de água que une dois mares. Tudo mais que compreendido in loco. Loucamente.
   Magalhães, que loucura é esta? Descobrir um caminho marítimo para as Índias e acreditar concluir a circunavegação da Terra? As águas pareciam-me geladas, com a força do vento e o extremo frio da região. Sabe-se que o clima é instável, com constantes tempestades. Terra magalânica!

      Mas a história conta que Fernão de Magalhães morreu, nas Filipinas, sem realizar seu sonho de chegar até a Europa e provar sua teoria. Será que se sentiu glorioso demais depois do feito? Os nativos locais mataram-no sem dó nem piedade. Provocou-os? Dizem que sim.
     A Espanha, depois da tragédia, logo recuou. Só a partir de 1877, a região começou a desenvolver-se com a navegação regional. Resumindo: descobriu-se petróleo e gás, a transformação em etanol e pronto! O Estreito depois, chamado de Magalhães foi em homenagem ao descobridor. Chegou, ao século XXI, com um relativo desenvolvimento, com estas riquezas naturais e o turismo .
    Passei. Vi. Acreditei. Estava no estreito estrito, de apertar corações e a sufocar a respiração de quem testemunha o presente e pensa no passado.



       Voltei a pensar em ti, Argentina. Onde você está, Argentina?




Ambiguidades em Punta Arenas



    Como achar um lugar mais bonito do que os mistérios de Ushuaia? Punta Arenas é capital da Região de Magalhães e Antártica Chilena. Situada às margens do Estreito de Magalhães? Interessou-me porque também levo Magalhães em meu nome.


      Entendi tudo logo, sem nenhuma expectativa de enxergar o além. Por exemplo: foi o principal porto de navegação entre os Oceanos Atlântico e Pacífico, até a abertura do Canal do Panamá, no começo do século XX. Coisas dos homens que transformam tudo do dia para a noite. Assim: agora vai reinar o Canal de Panamá, entendem-me? Comércio mais rápido e mais barato!   
   Pela arquitetura, foi visível, mais uma vez, que ali estava a presença dos imigrantes europeus. Fascina-me entender a história de um povo por meio da arquitetura, olhar casas, estilos e histórias de povoamentos. Como os europeus foram adiantados em tecnologia e construções e também quanta ambição! Estão por toda parte na América. Inclusive na religiosidade.





   Prosseguindo: o guia nos levou primeiramente ao Cemitério de Punta Arenas que possui belos mausoléus e jardins. Bonito sim. Mas a um cemitério? Parecia impossível esquecer-me de que estava no Fin del Mundo. Bonito, sim.
   Ah! Vi jardins feitos pelo homem. Não era a antureza virgem. Para não ficar muito tempo, claro! Buscava vida, amor, encontro e fascinação. Nem ver mais pingüins preto no branco, na Ilha Magdalena e Seno Otway.


                                                       Cemitério de Punta Arenas

   
      Então, deixamos o cemitério, com muito respeito e chegamos ao Mirante do Cerro de la Cruz de onde foi possível observar toda a cidade e o Estreito de Magalhães ao fundo.



       Detalhe: por estar localizada em uma região remota, Punta Arenas possui Zona Franca na qual é possível comprar produtos com isenção de impostos.
     Apreciamos a culinária de Punta Arenas: salmão no almoço. Saboroso e até tirei uma foto no local que disseram que havia o rei do vendedor de salmão.


       Voltamos para o navio, que será um capítulo à parte. Eu prometo apresentar minha morada fluida de 15 dias. Acabou o passeio. Precisava pensar mais. Sentir saudades da Argentina Ou abandono ?
     Eu, tão objetiva, com facilidade de decisões. Acertar e aprender no erro. Agora, nessa tal de ambiguidade contemporânea. Estranho e novo para mim.