sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Precisa decidir?


Estamos na rota final de nossa viagem. A próxima parada: Puerto Montt. Será que o Chile ainda vai me emocionar? Há lugares mais intrigantes? Pensei: a festa está acabando e vamos logo para casa. Vamos, no plural, porque tenho um companheiro de vida que está comigo.



Sabem, acho que ele entende este meu jeito de escrever, de falar, de observar tudo muito rapidamente. Ah! Mas, às vezes, devo incomodar. Eu acho. Ele franze a testa, olha para mim, não como no tango: em uma luta, em um desafio, em um lamento. Mas, como se me pedisse mais calma... Calma... Eu sempre querendo explorar tudo, perguntar sempre, sede de saber e de beber um pouco de cada lugar. Não sei.
Mas eu estava falando que estava no Chile. Voltando a tudo para recapitular: iniciamos a viagem pelo Oceano Atlântico, pela Argentina, fomos ao mais extremo sul da América e estamos voltando pelo oceano Pacífico pelo Chile. Tudo bem compreendido? Que íamos ver florestas, lagos e ilhas em Puerto Montt, é o óbvio. Mas lá há vulcões. Nunca vi um. Tenho até medo de falar. Bem; queria ver vulcões. 
Aprendi que todo nome de cidade tem um porquê. Puerto Montt foi em homenagem a mais um europeu, no caso espanhol, mandatário da época, dom Manuel Montt Torres.
 Dando um grande salto no tempo: no século XIX, chegaram mais europeus, os alemães que aí, fizeram a definitiva colonização: uma ferrovia para unir a cidade ao resto do país. Comércio, comércio e os europeus.
Fomos primeiramente a Puerto Varas. É uma cidade, ao norte de Puerto Montt, charmosa e repleta de casinhas em estilo típico da arquitetura alemã. Rodeada pela exuberância do lago Llanquihue que foi formado por 85% de chuvas e 15% de águas derretidas das neves pelos vulcões, Osorno e Cabulco.  Repetia o nome para não me esquecer: Osorno, Osorno...



Surpresa, surpresa: no caminho, paramos para ver os saltos de Petrohue, um dos lugares mais lindos da região. Aqui, as águas deste caudaloso rio foram represadas por uma das erupções do tal vulcão Osorno. Assim, formou-se o lago Todos los Santos.
Com o tempo, a água achou seu caminho, por entre as rochas vulcânicas e formou canais, saltos e cachoeiras. Devido a sua origem glacial, a água tem uma forte cor verde-esmeralda. O nome Petrohue quer dizer “Lugar de fumaça” talvez devido as gotas d´água em suspensão.




Impressionantemente! Não era só verde, mas verde-esmeralda. E os contrastes? Como sempre é o que se vê, nesta região: a presença constante do poder de luta. Aqui no caso: as pedras e a vegetação endurecidas contrastando com a placidez das águas verdes, verdes. É uma paisagem para nunca mais se esquecer.
Na vida há muitos contrastes também em várias situações. Ter coerência é complicado. Nem na natureza existe?! Quanto mais entre os humanos?! Os desencontros são frequentes, assim como os encotros. Ora juntos, ora separados. Assim é o Petrohue.



E o vulcão? Não estava próximo? Onde? Mas, vamos ter mais calma e explorar o cenário que estava ali em frente. Não sabia que o roteiro incluía esses saltos de Petrohué, muito próximo de Puerto Varas. Queria ver Osorno. Que nome esquisito?
Nunca pensei que ali estivesse escondida uma sucessão de pequenas e belíssimas cascatas e corredeiras apertadas, com água geladíssima bem vizinhas ao vulcão Osorno. Apreciamos todo o cenário em aproximadamente duas horas e foram poucas. Seguimos trilhas, subidas e descidas rodeados pelo verde-esmeralda, verde das árvores, do azul do céu e do vento, lógico!
Eu não queria ver o vulcão? Ali estava bem ao lado: imponente e dominando também do lado oposto, o espaço diante da sutileza das águas transparentes. Mais um embate: vulcão e água. Mas, não parece o tango, com o desejo de reconquista e de lamento pela separação. Demonstram que, com o tempo, já se aceitaram e convivem sem desentendimentos maiores.





Só que todos parecem querer se apresentar aos visitantes de forma mais efusiva. Como se dissessem: “Olhe para o lado direito, esquerdo, mas olhe para o alto, mais alto, mais alto, mais baixo, mais ainda. É um cenário impressionante. Fantástico e exótico!
Descobri, no meio do passeio, a origem do nome do vulcão Osorno: é de origem indígena e significa: “onde mora o demônio”. Depois de saber, quis voltar para o navio e celebrar o final da tarde.



 O ciclo de emoções se fechava. Pensei na Argentina, no Chile e no Brasil. O que fazer com tantos sentimentos? Como fazer escolhas com a diversidade de tudo que pude vivenciar nestas férias? Preciso decidir? A natureza vai me exigir isto?

Um comentário:

  1. A cumplicidade com a natureza e com seu marido são perceptíveis. Costumo dizer que a chama do ideal deve permanecer acesa em nosso íntimo, pois, ao realizar-se um desejo, outro já estará a caminho. Conhecendo vc como conheço, sei que outras novas paragens já povoam seus pensamentos.

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