sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ushuaia III. Endurecer até a hostilidade

Para esclarecer sobre este lugar, clímax de minha viagem: Ushuaia é margeada pelo Canal de Beagle, nome dado, em homenagem a Charles Darwin, que por aqui passou, com um navio com este nome, estudando e observando a natureza local. Celebrar um pesquisador atrai meus sentimentos.
Sobre o Parque Nacional ainda não falei. Tem 63 mil hectares. O quadro é impressionante: composto de montanhas, lagos cinematográficos e bosques nativos que estão no nível do mar. Tudo muito bem preservado. A Rota 3 é a última estrada das Américas. Dali abaixo, solamente de barco até o Cabo Horn, do qual já demos nossas impressões. Estamos no Fin del Mundo.





Relembrando também a chegada dos marinheiros: quando viram as chamas das fogueiras dos índios, à noite, denominaram a ilha de Tierra del Fuego. Nome original e criativo para aqueles que viviam a tensão patagônica de chegar a um local tão extremo.
Como já disse, gosto de observar as plantas, mas aqui a vegetação é rústica, fria, impassível e não se entrega ao vento. Parece-me quase morta. As árvores morrem de pé. Vejo várias secas, frias e mortas. A natureza endurece até a hostilidade.
A vida é selvagem e tem-se a ainda a presença de raposas, lobos e castores. Os últimos, introduzidos pelos ingleses, tornaram-se praga local: destroem florestas inteiras para construir seus diques. Infelizmente os animais, neste caso, vão de encontro ao ecossistema.
Retornando, então: estamos entre o Oceano Atlântico e o Pacífico que também ficam entre o Chile e a Argentina. São pares que tentam se dar as mãos. Um exemplo para o individualismo humano. Outra particularidade é o fuso horário: 17 horas de luz no verão e no inverno, somente oito. Observar o pôr do sol às 22 horas é uma das experiências surpreendente.



 E a Argentina aqui, diante de mim e lado a lado está o Chile, mostrando-me sua suavidade, por meio das águas de seus lagos, que reflete, sem inveja, a neve dos montes de seu vizinho. Por outro lado, as elevações chilenas, com gelo em seus pontos mais altos, parecem-me dizer: “Veja-me! Eu não saio daqui, nem mesmo no verão!” O mais incrível é que não parecem disputar espaços.
 Eu me encanto com o branco da neve no Chile. Gosto dessa luta incessante para se manter vivo diante do ardente sol. Por quantos embates passamos nessa pequena passagem da vida? Vencemos e perdemos. Mas, o Chile ultrapassa seus limites, mesmo com a chegada das estações do ano. Às vezes, chora sua neve que vi derreter pelos montes. 
Voltei-me ao tango. É uma luta dançante para se manter o amor com os acordes que também pareciam chorar. Eu aqui olho no olho no Chile, confundindo o meu coração. Imponente, o espaço chileno delimita seu pedaço de terra e água, com impressionante silêncio, beleza e liderança.
O gelo do Chile marca o território. Em alguns locais, dá para perceber que a Terra é circular, sem início, nem fim. Cheguei e vi. Como fazer a escolha: neve ou água? Quem sabe, depois do passeio de Catamarã?




Um comentário:

  1. "Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino" Paulo Freire. E aí está vc, só, sentada numa pedra chilena,longínqua que não é a de Drummond. Ávida de descobertas, se deixa fazer eco na ciranda de montanhas que a rodeiam. A gente cresce com os golpes duros da vida, mas também podemos crescer com os toques suaves da alma. Essa identidade esdrúxula com o desconhecido nos torna maior, pq armazenamos mais conhecimentos. Parabéns a vc, Regina, que vai em frente e deixa a Banda pra trás.

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