sábado, 7 de janeiro de 2012

Pinguins e preto no branco


Estamos em alto mar do Atlântico, já na Patagônia Argentina. Meu interesse depois de olhar o mapa: chegar a Puerto Madryn, que é um Golfo, isto é, um pouco de água que entra no continente.
 Gosto de saber o porquê do nome. Logo consegui a resposta: uma homenagem ao Barão de Madryn, um dos gauleses que, em 1865, influenciou a cultura local em troca de abrigo e manutenção do idioma espanhol. Lendas, mitos ou verdade.
          Mas, tínhamos de escolher um passeio: conhecer os pinguins ou os leões marinhos? Preferimos o primeiro. Em um ônibus, fomos para Punta Tombo, ao sul do porto: duas horas para ir e duas para voltar. É uma área turística e o lar de uma das maiores colônias de pinguins de Magalhães da América do Sul. Estima-se que sejam aproximadamente dois milhões nesta época a aportarem em Madryn.

Céu azul e ver pinguins. Na estrada, via-se a vegetação dura. Não balançava com o vento. Terra marrom e algumas pedras pequenas. Vegetação com desenho macabro. Diferente de tudo que já tinha visto. Ali haveria pinguins?


Descemos do ônibus. Terreno árido, terra seca e batida. Tendo um sol aberto como testemunha, avistei logo uns animais exóticos: os cervos. Aproximei-me para fotografar. Viraram as costas. Será que os pinguins teriam a mesma indiferença por mim?


Fomos em frente. Fui procurar quem vim ver. Logo avistei um pinguim sozinho, depois outros em grupos, depois milhares. Os argentinos gostam de história, de drama e de lamento. Não havia mais o que ver? Acabou a história? E o lamento e o pranto? A conquista e o olhar de dor? Nada mais? Observei que, às vezes, liberavam um uivo maior que eles.
         Não tive dificuldades para encontrar as respostas. Fiquei perplexa com o roteiro de vida escolhido por estes animais pequenos, com uns 40 centímetros aproximadamente, mas imponentes e ligeiros. No mês de agosto, os machos, deixam as águas do sul do Rio Grande do Sul, no Brasil, chegam a Puerto Madryn e fazem os ninhos. Interessante! Os homens precisam aprender mesmo os trabalhos domésticos para uma recepção com as honras merecidas.



No mês de setembro, vêm as fêmeas rechonchudas e bem pesadas com os bebês no ventre. O lar está organizado. Elas entram e em outubro, põem os ovos.
Em novembro, há o nascimento dos bebês. Chegam bem humorados e aprendem rapidamente sobre a vida com suas responsabilidades.


Em dezembro e janeiro, os filhotes se tornam independentes, abandonam seus pais e nadam em bando para o Oceano Atlântico. Vão sem dor e nem remorso. Desejam, parece-me, a liberdade para realizar seus sonhos. Errar muito e acertar também. Não pedem licença. Vão-se pelo mar aberto para a fascinante aventura que é a vida.


Os pais ficam. É momento de fazerem a troca dos pelos, que dura até fevereiro. Com a nova plumagem, devem fazer juras de amor, eu suponho, para em abril, migrarem para o mesmo lugar de onde vieram. Soube que nunca mais verão os filhos.
Pensem comigo. Tudo muito bonito. História com começo, meio e fim. O casal unido para trocar a plumagem é interessante, isto é, ter direito à renovação, não é qualquer humano que consegue. Voltar para refazer o ciclo é uma lição que acabei de aprender.


Depois, os filhos vão embora, pois logo ficam auto-suficientes, não ouvem mais os pais. Aliás, muito moderno. Entendi. Interessante ser um pinguim. Ter a responsabilidade familiar e depois viver solamente o casal, em um golfo no Oceano Atlântico.  Sabem ainda limitar a rotina e refazer o ciclo anualmente.  Acabou?
Não gosto de separação, de despedida e de nunca mais. Vaidosos, gentis e dóceis, sóbrios até no figurino, dispensam conselhos e partem sem cerimônia. Proponho-me a refletir mais e pôr o preto no branco como as plumagens dos pinguins. Argentina, pelo que vejo você sempre foi moderna e visionária. Não sei se me adaptaria a tanta independência.



Ah! Lembro-me. Também voei altos píncaros. Gosto de viagens e de sair sem destino. Mas será que vou me adaptar a esta vida mais livre que a minha, mais ousada, mais sem medo das consequências? Não sei. Tenho de pensar mais. Quero ver o Cabo Hornos, conhecido pelo Fim del mundo  amanhã. Isto significa que terei um cenário muito mais arrojado, Argentina. Você me deixa confusa. Tenho de pensar mais. Vou olhar o mar.





Um comentário:

  1. Mais uma vez o ser humano interfere na natureza atrapalhando os planos do Criador. Para os pinguins, animais exóticos e bonitos um dos grandes perigos para a sua sobrevivência são os derramamentos de óleo. Os animais cobertos de óleo não conseguem mais limpar as penas, e acabam morrendo intoxicados ou por inanição, pois ficam impossibilitados de nadar e mergulhar em busca de alimento.

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