quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Restrito ao Estreito de Magalhães


    Curiosidade eu tinha desde sempre. Ah! Foi Fernão de Magalhães o primeiro europeu a chegar até ali. Penso comigo: quanto estudou, interpretou, calculou, somou, multiplicou, subtraiu e dividiu? Uma aventura e tanto!
    Sem apoio de sua pátria, o projeto teve a aceitação da corte da Espanha. O rei de Portugal não acreditou na antevisão do seu compatriota. Isso acontece com frequência na vida real. Aliás, este fato foi real em 1519.
    Conta a história que o visionário português passou pelo Brasil e pelo Rio da Plata, aquele do qual já falamos e chegou. Humildemente, chamou a passagem de Estreito de Todos os Santos.
    Idealismo assim, com risco de vida, é difícil hoje. Não acredito que desejasse honrarias. Tinha paixão e isto foi tudo para chegar. Criativo nas denominações. Às terras do Norte, chamou-as de Terra dos Patagões (homens-índios com os pés grandes) e as do Sul, considerou-as Terra das Fumaças, isto é Terra do Fogo.
    Mas houve mortes e deserções dos marinheiros, até que a Espanha desistiu da empreitada de persistir na exploração dessa passagem secreta. Sabe o que é ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico? O segundo não tem nada de paz. Assim foi chamado, porque no dia em que a expedição por ali passou, o mar estava calmo.
    Desistir é? Assim? Com tecnologias primárias, Fernão de Magalhães ousou sem medo. Mas há os que desistem. Riscos e obstáculos existem aqui e ali, em qualquer lugar. Gosto é da luta. Ah! Lembrei-me do tango. Luta por um amor. E você, Argentina? Como está. Não me ouve? Preciso gritar?
     Vi no Chile, uma singular natureza, embora ameaçadora, Argentina. Vi um desfile de colinas arredondadas, picos pontiagudos e glaciais branco-azulados. Só em pensar em tudo aquilo vencido por embarcações primárias, dá calafrios. Senti medo de cair ali, como me ocorreu no Cabo Horns. Uma sensação de queda, de luta, de tormentas.  


 
    O vento violentamente levava-me para onde eu não queria ir. Resolvi entrar no navio e apreciar tudo preservada da natureza agora hostil a mim. A Argentina nunca me trouxe insegurança. Ali eu senti.
   O que dizer das enseadas, das baías, dos fiordes e das ilhas? Eu e as ilhas.  Ah! O que é um estreito? É um canal de água que une dois mares. Tudo mais que compreendido in loco. Loucamente.
   Magalhães, que loucura é esta? Descobrir um caminho marítimo para as Índias e acreditar concluir a circunavegação da Terra? As águas pareciam-me geladas, com a força do vento e o extremo frio da região. Sabe-se que o clima é instável, com constantes tempestades. Terra magalânica!

      Mas a história conta que Fernão de Magalhães morreu, nas Filipinas, sem realizar seu sonho de chegar até a Europa e provar sua teoria. Será que se sentiu glorioso demais depois do feito? Os nativos locais mataram-no sem dó nem piedade. Provocou-os? Dizem que sim.
     A Espanha, depois da tragédia, logo recuou. Só a partir de 1877, a região começou a desenvolver-se com a navegação regional. Resumindo: descobriu-se petróleo e gás, a transformação em etanol e pronto! O Estreito depois, chamado de Magalhães foi em homenagem ao descobridor. Chegou, ao século XXI, com um relativo desenvolvimento, com estas riquezas naturais e o turismo .
    Passei. Vi. Acreditei. Estava no estreito estrito, de apertar corações e a sufocar a respiração de quem testemunha o presente e pensa no passado.



       Voltei a pensar em ti, Argentina. Onde você está, Argentina?




Nenhum comentário:

Postar um comentário